Mostra Curtas Horror

Mostra Horror

Paranoia, loucura e outras inquietações: sinais do tempo na mostra de curtas-metragens de horror

Nenhum outro gênero narrativo é capaz de captar o espírito de seu tempo de maneira mais precisa do que o horror. Por isso, nada mais natural que os curtas desta edição tragam temas como paranoia, solidão, depressão, loucura e outras inquietações, ecos pós-pandêmicos em que isolamento não soa mais como sinônimo de segurança e tranquilidade.

É o que vemos em Stuck, tenso e claustrofóbico, ambientado no porão de uma casa recém-ocupada onde há um baú acorrentado. Amara evoca uma atmosfera onírica ao mostrar uma mulher filmada por um estranho dentro de sua própria casa. Peaking acompanha uma operadora de som que capta ruídos sinistros com seu equipamento, uma metáfora contundente das relações tóxicas no ambiente de trabalho. Em Umbral, uma mãe em doloroso luto pelo filho enfia um cartão de aniversário por baixo da porta do quarto do menino. O bilhete é inesperadamente empurrado de volta.

O bem-humorado Cruise é um respiro, mas não sem provocar suspense ao mostrar um homem desafiado a telefonar para pessoas aleatórias e convencê-las a aceitar de presente bilhetes para um cruzeiro no Havaí. Intimista, Latente fala de uma mulher casada lidando com o caminho perigoso através do qual o seu desejo lhe conduz. Expectancy é sobre um jovem prestes a ser pai que fica obcecado com os inexplicáveis sons de bebê que saem da babá eletrônica.

Com forte teor psicanalítico, The Bottom é um exercício de tensão onde um homem aponta uma espingarda para o outro, tentando convencê-lo a mergulhar no fundo de um lago gelado. Encerrando a sessão, In the Soil conta de maneira lenta e gradual a história de um homem obcecado com uma cova em seu quintal e como essa fixação afeta a relação com a sua filha. Uma coda pessimista que resume o conjunto dos filmes da sessão, mas que permite um vislumbre de esperança ao mostrar a personagem mais jovem dando as costas para um passado obscuro. Afinal, se desvencilhar da escuridão é um desejo vivo e coletivo.